Sou eu quem toca e retoca a poesia
Quem rascunha e apaga as palavras perdidas
Quem te prende no papel e depois suspira
Quem solta o traço, rabisca e transpira.
Esperando a volta das sensações esquecidas
Tendo entre os dedos apenas a madeira áspera do lápis,
Sempre fria.
Se sou eu quem te dá o primeiro fôlego
Quem te desperta do abissal vazio
E quem mergulha na tua atmosfera
Quem será o guardião da fronteira entre as nossas Eras?
Se tenho eu o poder de fazer nascer novas vidas, por que te recrio?
A ópera, o canto, o pássaro, a dança.
Todos refletem o teu rosto, a tua sombra.
E é como vestir peles, trocar de roupa, de fantasia.
Se são minhas ou tuas, quem saberia?
Desfaço a cara feia, a cama arrumada, a tromba.
E me lanço no mundo dos sonhos aonde você sempre avança
A linha que nos separa neste mundo.
Enquanto houver lucidez, seremos reprodutor e criatura
Se sobrar celulose e grafite, nos tornaremos pensamento e canal.
Mas se der errado, tua essência será o meu manto.
Se tudo se acabar, leve-me para conhecer teu pranto.
E a tua dor e a minha loucura atravessarão os limites da moral
E a ausência da minha sanidade será estímulo
Para nossa união eterna, a minha cura.
Sra. Lúcifer